Facebook

Teses e Dissertações


2010


Aluno:João Luiz Dornelles Bastos

Título: Desigualdades “raciais” em saúde: medindo a experiência de discriminação auto relatada no Brasil

E-mail:

Área de concentração:Epidemiologia

Orientador:Aluísio J. D. Barros

Banca examinadora:Bernardo Lessa Horta-UFPel; Ceres Gomes Victora; Luiz Augusto Facchini-UFPel.

Data defesa:01/06/2010

Palavras-chave:Desigualdades raciais, discriminação, epidemiologia

Estudo realizado por João Luiz Bastos (UFPel), orientado pelos professores Aluísio Barros (UFPel) e Eduardo Faerstein (UERJ), aponta que jovens universitários do Rio de Janeiropassam por diversas e diferentes experiências de discriminação ao longo de suas vidas. Apesquisa, que tem com o objetivo de auxiliar a construção de um questionário para avaliar experiências de discriminação, mostrou que estes jovens reconhecem-se como vítimas de discriminação em situações muito corriqueiras de seus cotidianos. Segundo os participantes do estudo, tais experiências discriminatórias ocorreriam na interação com os colegas da universidade, no ambiente familiar, especialmente no convívio com os pais, na relação com os professores, em festas e também nos contatos com a polícia ou com profissionais de segurança. Outro aspecto que chamou atenção dos pesquisadores foram os relatos de que os jovens perceberam-se discriminados por mais de um motivo, simultaneamente. O caso de uma entrevistada que se sentia discriminada por ser pobre, negra, ter nascido em outro município e morar em uma região menos valorizada da cidade ilustra bem a complexidade envolvida nas experiências de discriminação. Porém, tal complexidade não se restringiu às motivações para as experiências discriminatórias. Uma maior intimidade entre as pessoas, o tom de voz ameno e carinhoso, a manifestação de preconceitos sob a forma de piadas ou brincadeiras são fatores que podem diluir a carga discriminatória que determinado comportamento pode ter entre as pessoas. Tudo isto revela que a interpretação de um comportamento como discriminatório é dada por uma série de condições muito específicas e passageiras das relações que os indivíduos estabelecem entre si, sob a influência de experiências passadas. Igualmente interessante foi a constatação de que, segundo os jovens, a pobreza amplia situações de preconceito e discriminação e, principalmente, que as relações de poder favorecem a manifestação de discriminação entre as pessoas. Por fim, os pesquisadores observaram também que os participantes do estudo não se reconheceram apenas como vítimas de discriminação, mas também como agentes discriminadores. Isto sugere que as relações entre as pessoas se dão de maneira muito dinâmica, nas quais a troca de posições e papéis deve ser considerada como um elemento importante. A pesquisa é parte da tese de doutorado de João Luiz Bastos, cuja defesa está prevista para o próximo dia 15 de julho. Seu trabalho conclui que, embora as experiências de discriminação sejam fenômenos complexos e difíceis de avaliar, estão muito presentes no cotidiano das pessoas.


ARTIGOS

1-Does the way I see you affect the way I see myself? Associations between nterviewers' and interviewees' "color/race" in southern Brazil

RESUMO: This study assessed the associations between female interviewers’ self-classified “color/race” and participants’ self- and interviewer-classified “color/race”. A cross-sectional study was carried out among adult individuals living in Pelotas, southern Brazil. Associations were examined by means of contingency tables and multinomial regression models, adjusting for interviewees’ socioeconomic and demographic factors. Individuals aged ≥ 40 years were 2.1 times more likely to classify themselves as brown (versus white) when interviewed by black (as compared to white) interviewers. Participants in the same age group were 2.5 times less likely to classify themselves as black (versus white), when interviewed by black interviewers. These differences were even greater among men 40 years or older. Compared to white interviewers, black female interviewers were 2.5 times less likely to classify men aged ≥ 40 years as black. These results highlight the complexity of racial classification, indicating the influence of the interviewer’s physical characteristics on the interviewee’s “color/race”.

Palavras-chave: Ethnic Group and Health; Race Relations; Epidemiological Measurements


2- Racial discrimination and health: A systematic review of scales with a focus on their psychometric properties

RESUMO: The literature addressing the use of the race variable to study causes of racial inequities in health is characterized by a dense discussion on the pitfalls in interpreting statistical associations as causal relationships. In contrast, fewer studies have addressed the use of racial discrimination scales to estimate discrimination effects on health, and none of them provided a thorough assessment of the scales' psychometric properties. Our aim was to systematically review self-reported racial discrimination scales to describe their development processes and to provide a synthesis of their psychometric properties. A computer-based search in PubMed, LILACS, PsycInfo, Scielo, Scopus and Web of Science was conducted without any type of restriction, using search queries containing free and controlled vocabulary. After initially identifying 3060 references, 24 scales were included in the review. Despite the fact that discrimination stands as topic of international relevance, 23 (96%) scales were developed within the United States. Most studies (67%, N = 16) were published in the last 12 years, documenting initial attempts at scale development, with a dearth of investigations on scale refinements or cross-cultural adaptations. Psychometric properties were acceptable; sixteen of all scales presented reliability scores above 0.7, 19 out of 20 instruments confirmed at least 75% of all previously stated hypotheses regarding the constructs under consideration, and conceptual dimensional structure was supported by means of any type of factor analysis in 17 of 21 scales. However, independent researchers, apart from the original scale developers, have rarely examined such scales. The use of racial terminology and how it may influence self-reported experiences of discrimination has not yet been thoroughly examined. The need to consider other types of unfair treatment as concurrently important health-damaging exposures, and the idea of a universal instrument which would permit cross-cultural adaptations, should be discussed among researchers in this emerging field of inquiry.

Palavras-chave: Prejudice; Systematic review; Racial discrimination


3- Experiências de discriminação entre universitários do Rio de Janeiro

RESUMO: Compreender experiências de discriminação vividas por jovens universitários e analisar sua aplicação à construção de escala brasileira de discriminação.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS: Estudo qualitativo realizado com cinco grupos focais com 43 universitários do Rio de Janeiro, RJ, em 2008. Foram selecionados estudantes de cursos com distintas relações candidato/vaga, de ambos os sexos e autoclassificados nas categorias de cor/raça branca, parda e preta de duas instituições de ensino público superior. Foi utilizado o roteiro que abrangia os termos preconceito e discriminação e questionava os participantes acerca de suas experiências discriminatórias. Adotou-se o método de interpretação de sentidos, buscando-se apreender o contexto, as razões e as lógicas das falas dos sujeitos.
ANÁLISE DOS RESULTADOS: O preconceito foi interpretado como algo pertencente ao campo das idéias e possivelmente equivocado, podendo ser tanto positivo quanto negativo. A discriminação foi atribuída ao plano dos comportamentos observáveis e com conotação invariavelmente negativa. A interpretação de um evento como discriminatório foi influenciada por fatores subjetivos, tais como os interesses particulares e o grau de afetividade estabelecido entre os indivíduos. Porém, os limites entre o que foi interpretado como discriminatório ou não dependeu fortemente do contexto específico em que ocorreu a interação entre os sujeitos. Diferentes cenários e, eventualmente, mais do que uma motivação foram simultaneamente apontados nas experiências discriminatórias. Os participantes se reconheceram tanto como vítimas quanto perpetradores de discriminação.
CONCLUSÕES: A interpretação de um evento como discriminatório é complexa e as experiências de discriminação são dificilmente generalizáveis. Quando evidentes, os motivos pelos quais os sujeitos supõem que foram discriminados podem ser múltiplos e estar associados. Tais aspectos devem ser considerados na construção de escalas de discriminação.

Palavras-chave: Estudantes; Preconceito; Relações Interpessoais.


Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia - Centro de Pesquisas Epidemiológicas