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Teses e Dissertações


2012


Aluno:Maria Beatriz Junqueira Camargo

Título: Utilização de serviços odontológicos e comportamentos relacionados à saúde entre crianças pertencentes a uma coorte de nascimentos

E-mail:mbiajac@uol.com.br

Área de concentração:

Orientador:Aluisio J. D. Barros

Banca examinadora:Roger Keller Celeste (UFRGS), Flávio F. Demarco e Tania Izabel Bighetti.

Data defesa:11/12/2012

Palavras-chave:Saúde oral; Crianças; Epidemiologia

Camargo, Maria Beatriz Junqueira. Utilização de serviços odontológicos e comportamentos relacionados à saúde entre crianças pertencentes a uma coorte de nascimentos.
Tese (Doutorado). Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia. Universidade Federal de Pelotas (UFPel).

Nas últimas três décadas observou-se declínio da ocorrência de cárie dentária em crianças e jovens. Entretanto, essa diminuição se deu de forma desigual, com redução muito maior entre a população mais rica, de forma que a parcela mais pobre da população concentra hoje a maior parte da carga de doença. Apesar deste declínio, a cárie ainda é a doença crônica mais comum entre as crianças.
Este declínio da cárie, ocorrido de forma não homogênea, reforçou disparidades socioeconômicas que têm sido relatadas em estudos de diversos países. Mesmo em países de alta renda, onde houve diminuição da prevalência de cárie em todas as classes
sociais nos últimos 20 anos, as desigualdades em saúde bucal têm se ampliado.
Entre os pré-escolares tal fato é mais marcante. Crianças mais pobres e cujas mães ou pais possuem menor escolaridade têm maior chance de apresentar cárie dentária. Neste contexto, os serviços de saúde bucal são importantes tanto no aconselhamento de cuidadores para práticas de prevenção de doenças, através da disseminação de informações sobre comportamentos e práticas favoráveis à saúde, como desempenham um importante papel na detecção precoce das doenças bucais e no restabelecimento da saúde bucal. Estudos para avaliar a utilização de serviços de saúde odontológicos entre pré-escolares são escassos e a maioria provém de países de alta renda.
Com o objetivo de avaliar a utilização de serviços odontológicos entre pré-escolares e a existência de desigualdades socioeconômicas relacionadas à cárie dentária, um estudo foi realizado em uma amostra da Coorte de Nascimentos de Pelotas de 2004, entre setembro de 2009 e janeiro de 2010.
Para conhecer a situação epidemiológica da população alvo é necessário o uso de índices que quantifiquem o estado de doença presente. Visto que existem várias alternativas sendo usadas na literatura, realizamos uma revisão sistemática dos índices de cárie dentária propostos, identificando suas indicações e limitações.
Nossos resultados mostraram que a prevalência de utilização de serviço odontológico ao menos uma vez na vida, entre as crianças aos cinco anos de idade, foi de 37,0%. A média de superfícies cariadas (ceo-s) foi de 4,1 e entre o terço mais atingido essa média
foi de 11,8. O componente cariado correspondeu a 94,0% do valor do ceo-s.
Menos da metade das mães relataram ter recebido orientação sobre como prevenir cáries em crianças. Para a utilização de serviços de forma preventiva, além da renda e escolaridade da mãe, comportamentos como adesão a programas de saúde, uso regular de serviços odontológicos pela mãe e ajudar o filho na higiene bucal se mostraram preditores importantes. Para o uso de serviço odontológico relacionado à resolução de
um problema, aspectos ligados à dor e pertencer ao tercil de maior experiência de cárie se mostraram associados.
Vários indicadores de comportamentos da mãe e da criança foram analisados de forma conjunta através de análise de componentes principais, que resultou em cinco dimensões, cada uma incluindo comportamentos ligados à higiene, ao consumo de açúcares, cuidados preventivos, consumo de frutas/verduras e consumo de guloseimas.
Filhos de mães com maior escolaridade e melhor nível econômico apresentaram maiores escores de comportamentos saudáveis relacionados à saúde bucal como maior consumo de frutas/verduras, melhor higiene e cuidados preventivos e menores escores de consumo de açúcar e guloseimas.
Três destas dimensões de comportamentos estudadas, independentemente das variáveis socioeconômicas e demográficas, apresentaram associação com a cárie dentária entre crianças aos cinco anos de idade. Crianças que apresentaram maior escore de higiene, de cuidados preventivos e menor escore de consumo de açúcar apresentaram uma média de cárie dentária equivalente a 1/5 da média do grupo no tercil inferior do escore de higiene e no tercil superior de consumo de açúcares. Menor escolaridade e menor nível econômico também estiveram associados com menor utilização de serviços odontológicos.
Para elevar a taxa de uso dos serviços odontológicos por motivos de prevenção e reduzir as desigualdades relacionadas à cárie dentária é necessário aumentar o domínio das mães sobre o conhecimento relacionado ao processo saúde doença bucal e das práticas saudáveis em saúde bucal. Para conseguir esse enfrentamento é necessário a implementação de políticas públicas de promoção de saúde efetivas.


ARTIGO 1 - Preditores da realização de consultas odontológicas de rotina e por problema em pré-escolares
OBJETIVO: Estimar a prevalência do uso de serviços odontológicos por pré-escolares e fatores associados.
MÉTODOS: Estudo transversal com 1.129 crianças de cinco anos de idade da Coorte de Nascimentos de Pelotas 2004, RS, de setembro de 2009 a janeiro de 2010. Registrou-se o uso de serviço odontológico pelo menos uma vez na vida e o motivo para a primeira consulta odontológica da criança. As categorias do desfecho foram: ter feito a primeira consulta por rotina, para resolver um problema ou nunca ter ido ao dentista. Os exames bucais e as entrevistas foram realizados nos domicílios. Aspectos socioeconômicos e variáveis independentes ligadas à mãe e à criança foram analisados por meio de regressão logística multinomial.

RESULTADOS: A prevalência de uso por qualquer motivo foi 37,0%. Os principais preditores para consulta de rotina foram nível econômico mais elevado, mãe com maior escolaridade e ter recebido orientação sobre prevenção. Principais preditores para consulta por problema foram ter sentido dor nos últimos seis meses, mãe com maior escolaridade e ter recebido orientação sobre prevenção. Cerca de 45,0% das mães receberam orientação de como prevenir cárie, principalmente fornecida por dentistas. Filhos de mães com história de maior aderência a programas de saúde tiveram maior probabilidade de ter feito uma consulta odontológica de rotina.

CONCLUSÕES: A taxa de utilização dos serviços odontológicos por pré-escolares foi inferior às de consultas médicas (puericultura). Além da renda e da escolaridade, comportamentos maternos têm papel importante no uso por rotina. Relato de dor nos últimos seis meses e número elevado de dentes afetados por cárie, independentemente dos demais fatores, estiveram associados ao uso para resolver problema. É necessária a integração de ações de saúde bucal nos programas materno-infantis.

DESCRITORES: Pré-Escolar. Consultórios Odontológicos, utilização. Fatores Socioeconômicos. Serviços de Saúde Bucal. Educação em Saúde Bucal. Assistência Integral à Saúde.


ARTIGO 2 - Comportamentos em saúde bucal e nível econômico têm papel marcante na determinação da cárie entre pré-escolares.

Resumo: o objetivo do estudo foi avaliar como se distribuem alguns comportamentos relacionados à saúde bucal de mães e crianças aos cinco anos de idade, entre variáveis socioeconômicas e demográficas. Adicionalmente, identificar qual o papel destes comportamentos em modificar ou não a associação entre experiência de cárie em superfícies de dentes decíduos e variáveis socioeconômicas e demográficas.
O estudo transversal foi realizado em Pelotas, RS, com crianças de cinco anos de idade pertencentes a uma coorte de nascimentos iniciada em 2004. Uma sub-amostra de 1.129 crianças foi submetida a exame bucal no domicílio, enquanto que suas mães foram entrevistadas por meio de um questionário padronizado, no período entre setembro de 2009 a janeiro de 2010. Foram utilizadas variáveis deste e de outros acompanhamentos.
Os comportamentos foram analisados de forma agregada, utilizando-se para isso a análise de componentes principais. As crianças cujas mães tinham menor escolaridade apresentaram um ceos 3,7 vezes maior, em média, quando comparadas às mães de escolaridade mais elevada. As crianças de mães menos escolarizadas, pertencentes aos piores quartis do nível econômico e de cor preta e parda apresentaram piores escores de comportamentos favoráveis à saúde bucal como consumir frutas/verduras, cuidados preventivos e variáveis relacionadas a higiene e maiores escores de consumo de açúcar e guloseimas. Algumas das dimensões de comportamentos estudadas, independentemente das variáveis socioeconômicas e demográficas, são determinantes significativos para a cárie dentária entre crianças aos cinco anos de idade. Essas dimensões foram capazes de atenuar a desigualdade de cárie relacionada à escolaridade da mãe.

Palavras chave: crianças; saúde bucal; desigualdades em saúde; conduta de saúde; cárie dentária.


Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia - Centro de Pesquisas Epidemiológicas