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Teses e Dissertações


2020


Aluno:Janaína Calu Costa

Título: Níveis e determinantes do excesso de mortes de meninas menores de cinco anos em países de baixa e média renda

E-mail:

Área de concentração:

Orientador:Cesar Victora

Banca examinadora:Stela Meneghel, Fernando Wehrmeister e Helen Gonçalves

Data defesa:28/09/2020

Palavras-chave:Desigualdades em Saúde

Sexo é uma variável fundamental para análises de mortalidade e, em geral, as taxas são maiores para meninos do que para meninas. No entanto, a discriminação de gênero pode mudar essa relação, por exemplo, através de práticas alimentares inadequadas e menor procura de cuidados de saúde para meninas que podem refletir em sua maior mortalidade. Os objetivos desta tese foram: (I) explorar religião como um dos possíveis determinantes culturais do cuidado diferencial de crianças; (II) analisar quais os fatores associados a viés de gênero na mortalidade de menores de cinco anos; e (III) descrever as metodologias utilizadas por outros estudos para análise das diferenças de sexo na mortalidade de crianças. Foram produzidos dois artigos analíticos baseados em dados de inquéritos populacionais de países de baixa e média renda (Demographic and Health Surveys e Multiple Indicator Cluster Surveys) e uma revisão de literatura. No primeiro artigo foram utilizados dados de 15 países da África subsaariana (2010-2016). As proporções de crianças que receberam imunização completa com as quatro vacinas básicas (BCG, Polio, DPT e sarampo) e daquelas que não receberam nenhuma dose foram analisadas de acordo com a religião materna e sexo da criança utilizando-se modelos de regressão de Poisson brutos com ajuste para fatores socioeconômicos. Em sete países, a imunização completa foi significativamente menor entre muçulmanos em relação aos cristãos na análise ajustada (razão de prevalência combinada = 0,90 (IC95% 0,87;0,92)]. Em relação às crianças não vacinadas, seis países apresentaram proporções mais altas entre os muçulmanos [RP ajustada = 1,31 (1,14;1,48)]. Sexo não esteve consistentemente associado com vacinação. Para as análises de mortalidade diferencial por sexo foram utilizados dados de 80 países (2010-2018). Os resíduos da associação entre razão de sexo na mortalidade e mortalidade total foram derivados de um modelo de regressão linear, sendo resíduos negativos sugestivos de discriminação contra meninas. Associações entre estes resíduos e indicadores de desenvolvimento nacional, de desigualdade de gênero e de saúde infantil, foram avaliadas através da correlação de Spearman. Foi encontrada mortalidade de meninas acima do esperado em países onde também houve evidência de viés de gênero na procura de cuidados de saúde [rho = -0,24; (- 0,45; -0,01)]. A revisão de literatura nos permitiu analisar 154 publicações. Em sua maioria, os estudos focaram em países da Ásia e na mortalidade infantil, e não ajustaram para a mortalidade geral em suas análises. As publicações foram caracterizadas como: estudos de referência (n=14) quando estimavam as diferenças esperadas com base na experiência demográfica de populações selecionadas; estudos comparativos (n=21) que usaram principalmente tábuas de vida de populações europeias como padrão; e estudos narrativos (n=119) que não usaram valores de referência, limitando-se a relatar as estimativas observadas. Estudos com essa perspectiva são importantes para detecção de desigualdades e de práticas discriminatórias e seus determinantes, podendo auxiliar na eliminação das iniquidades de gênero na sobrevivência infantil.

ABSTRACT

Sex is a fundamental variable for mortality analyses and, in general, rates are higher for boys than for girls. However, gender discrimination can change this relationship, for example, through inappropriate feeding practices and reduced health care-seeking for girls that may reflect their higher mortality. The objectives of this dissertation were: (I) to explore religion as one of the possible cultural determinants of differential care for children; (II) analyze which factors are associated with gender bias in under-five mortality; and (III) describe the methodologies used by other studies to analyze gender differences in early childhood mortality. Two analytical papers were produced based on data from population surveys in low- and middle-income countries (Demographic and Health Surveys and Multiple Indicator Cluster Surveys) and one literature review. The first paper used data from 15 countries in sub-Saharan Africa. The proportions of children who received complete immunization with the four basic vaccines (BCG, Polio, DPT and measles) and those who did not receive any doses were analyzed according to the maternal religion and the child sex using Poisson regression models, crude and adjusted for socioeconomic factors. In seven countries, full immunization was significantly lower among Muslims compared to Christians in the adjusted analysis [combined prevalence ratio = 0.90 (95%CI 0.87; 0.92)]. In relation to unvaccinated children, six countries showed higher proportions among Muslims [adjusted PR = 1.31 (1.14; 1.48)]. Sex was not consistently associated with vaccination. For analysis of differential mortality by sex, data from 80 countries were used (2010-2018) The residuals of the association between sex ratio in mortality and total mortality were derived from a linear regression model, with negative residuals suggestive of discrimination against girls. Associations between these residuals and indicators of national development, gender inequality and child health care, were assessed using Spearman's correlation. Female mortality was higher than expected in countries where there was also evidence of gender bias in health care-seeking and [rho = -0.24; (-0.45; -0.01)]. The literature review allowed us to analyze 154 publications. Most studies focused on Asian countries and child mortality and did not adjust for overall mortality in their analyses. The publications were characterized as: reference studies (n = 14) when these estimated the expected differences based on the demographic experience of selected populations; comparative studies (n = 21) that used mainly life tables of European populations as the standard; and narrative studies (n = 119) that did not use reference values, limited to reporting the observed estimates. Studies with this perspective are important for detecting inequalities, discriminatory practices, and their determinants, and may help to eliminate gender inequities in child survival.


Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia - Centro de Pesquisas Epidemiológicas