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Teses e Dissertações


2023


Aluno:Sarah Arangurem Karam

Título: Desigualdades socioeconômicas na ocorrência de cárie dentária não tratada na primeira infância

E-mail:

Área de concentração:

Orientador:Flávo Demarco

Banca examinadora:Inácio Crochemore, Helen Gonçalves e Luísa Corrêa de Oliveira.

Data defesa:20/06/2023

Palavras-chave:

Estudos têm demonstrado o efeito das condições socioeconômicas na cárie dentária nas diferentes faixas etárias. Entretanto, por falta de dados longitudinais poucos estudos conseguem monitorar a prevalência de cárie não tratada em diferentes períodos em uma mesma população, ou avaliar a mobilidade social, que é a capacidade dos indivíduos ou de suas famílias de melhorarem a sua condição socioeconômica ao longo do tempo, e a sua influência na ocorrência de cárie não tratada na primeira infância. Vários fatores podem influenciar uma mobilidade social ascendente/descendente, incluindo o acesso a uma educação de qualidade, oportunidades de emprego, redes sociais de apoio, condições econômicas prévias, políticas públicas, discriminação e preconceito. Uma mobilidade ascendente pode conduzir a melhores resultados em termos de saúde bucal, assim como uma mobilidade limitada ou descendente podem resultar em acesso reduzido a cuidados de saúde bucal de qualidade perpetuando assim desigualdade socioeconômicas em saúde bucal. Com isso, o objetivo desse trabalho foi avaliar a influência das desigualdades socioeconômicas e da mobilidade social familiar na ocorrência de cárie dentária não tratada aos 48 meses nas crianças da coorte de nascimentos Pelotas de 2015. O primeiro artigo da tese é uma revisão sistemática da literatura avaliando a disponibilidade de dados sobre as disparidades socioeconômicas e étnicoraciais na cárie dentária infantil não tratada usando inquéritos nacionais de saúde bucal. Dois artigos originais foram desenvolvidos com dados coletados nas coortes de 1982, 1993, 2004 e 2015. O desfecho dos artigos originais é a cárie dentária não tratada. Foram utilizados dados de saúde bucal aos 48 meses da coorte de 2015, aos 5 anos da coorte de 2004 e aos 6 anos da coorte de 1993. Para as exposições foram utilizados dados referentes a renda familiar, escolaridade materna e raça/cor da pele materna nos acompanhamentos do perinatal e 48 meses. Para composição da variável mobilidade social foram utilizados dados socioeconômicos e étnico-raciais do perinatal das mães da coorte de 2015 pertencentes as coortes de 1982 e 1993. Os exames de saúde bucal foram realizados por cirurgiões-dentistas treinados e calibrados utilizando o índice CPO-D (Dentes Cariados, Perdidos e Restaurados) nas coortes 1993 e 2004; e o ICDAS (International Caries Detection and Assessment System) na coorte de 2015. As análises estatísticas realizadas foram o índice absoluto de desigualdade (slope index of inequality-SII), índice de concentração (concentration index-CIX) e modelos de Regressão de Poisson com razões de prevalência (RP). A prevalência de cárie não tratada na dentição decídua foi de 63,4%, 45,5% e 15,6%, nas coortes de 1993, 2004 e 2015, respectivamente. Observou-se uma maior prevalência de cárie dentária não tratada concentrada entre as crianças mais desfavorecidas socioeconomicamente e com mães autodeclaradas com cor da pele Preta/Parda. Também se observou maior prevalência de cárie dentária não tratada nas crianças pertencentes a famílias persistentemente em pior condição socioeconômica, ou que as mães apresentaram alguma mobilidade social do perinatal até os quatro anos em comparação as crianças que sempre estiveram em alto nível socioeconômico. Além disso, observou-se maior prevalência de cárie não tratada nas crianças filhas de mães autodeclaradas Pretas/Pardas independente do grupo de renda, escolaridade ou mobilidade social dessas mães. Com nossos resultados foi possível analisar que apesar de existirem políticas públicas voltadas a saúde bucal a nível nacional, regional e local, uma desigualdade em saúde bucal persiste ao longo dos anos, assim como a concentração de pior condição de saúde bucal na dentição decídua para as crianças que apresentaram algum período de vulnerabilidade econômica na infância.


Palavras-chave:criança;Pré-escola;cárie dentária;epidemiologia;saúde bucal;fatores socioeconômicos



Abstract

Studies have demonstrated the effect of socioeconomic conditions on dental caries in different age groups. However, due to the lack of longitudinal data, few studies can monitor the prevalence of untreated caries in different periods in the same population or assess social mobility, which is the ability of individuals or their families to improve their socioeconomic condition over time, and its influence on the occurrence of untreated dental caries in early childhood. Several factors can influence upward/downward social mobility, including access to quality education, employment opportunities, supportive social networks, prior economic conditions, public policy, discrimination, and prejudice. Upward mobility can lead to better oral health outcomes, while limited or downward mobility can result in reduced access to quality oral health care, thus perpetuating socioeconomic inequalities in oral health. Thus, the objective of this study was to evaluate the influence of socioeconomic inequalities and family social mobility on the occurrence of untreated dental caries at 48 months of age in children from the 2015 Pelotas Birth Cohort. The first article in the thesis is a systematic review of the literature assessing the availability of data on socioeconomic and ethnic-racial disparities in untreated childhood dental caries using national oral health surveys. Two original articles were developed with data collected in the 1982, 1993, 2004, and 2015 cohorts. The outcome of the original articles is untreated dental caries. Oral health data were used at 48 months of the 2015 cohort, at 5 years of the 2004 cohort, and at 6 years of the 1993 cohort. For the exposures, data referring to family income, maternal education, and maternal race/skin color in the perinatal and 48-month follow-ups were used. For the composition of the social mobility variable, socioeconomic and ethnic-racial perinatal data of the mothers of the 2015 cohort belonging to the 1982 and 1993 cohorts were used. Oral health examinations were performed by trained dentists and calibrated using the DMFT index (Decayed, Missing and Restored Teeth) in the 1993 and 2004 cohorts; and the ICDAS (International Caries Detection and Assessment System) in the 2015 cohort. The statistical analyses performed were the absolute index of inequality (slope index of inequality-SII), concentration index (concentration index- CIX), and Poisson Regression models with prevalence ratios (PR). The prevalence of untreated caries in the primary dentition was 63.4%, 45.5%, and 15.6% in the 1993, 2004, and 2015 cohorts, respectively. A higher prevalence of untreated dental caries was observed, concentrated among the most socioeconomically disadvantaged children and with self-declared mothers of Black/Brown skin color. A higher prevalence of untreated dental caries was also observed in children belonging to families with persistently worse socioeconomic status or whose mothers had some social mobility from the perinatal period up to four years of age compared to children who had always been in high socioeconomic status. In addition, there was a higher prevalence of untreated dental caries in children of self-declared Black/Brown mothers, regardless of their income group, education, or social mobility. With our results, it was possible to analyze that although there are public policies aimed at oral health at national, regional, and local levels, an inequality in oral health persists over the years, as does the concentration of worse oral health conditions in the deciduous dentition for the children who had some period of economic vulnerability in childhood.


Keywords:child;preschool;dental caries;epidemiology;oral health;socioeconomic factors


Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia - Centro de Pesquisas Epidemiológicas